Visita a Atouguia

Passando uns dias a apanhar sol e iodo na praia da Consolação, é natural que façamos algumas deslocações pelos arredores, a começar por Peniche, onde sempre nos esperam bons pratos de peixe. Mas desse promontório vigilante do mar e das ilhas Berlengas não irei falar.

Hoje pretendo ir um pouco mais para o interior, poucos quilómetros, para falar de espaços menos conhecidos e menos falados. Quem conhece Atouguia da Baleia?

Pois, Atouguia da Baleia desde tempos remotos cresceu como grande e apetitoso entreposto comercial, com aquela grande enseada acolhedora de barcos e zona propícia à agricultura e à pesca. Hoje até parece estar longe do mar com tantos assoreamentos.

Não é a primeira vez que ali nos deslocamos e ficamos a olhar para aquelas construções com a riqueza do passado, que nos faz imaginar mundos de gente trabalhadora, ousada e disposta a vencer as dificuldades que a natureza lhe impunha… E que dizem os folhetos turísticos?

Atouguia, que também se denomina Touria (lugar onde os touros selvagens tinham já relevo, a ponto de constarem do brasão!), foi povoação doada por D. Afonso Henriques em 1147 a D. Guilherme de Corni, um cruzado franco que, com os seus homens, ajudou a conquistar Lisboa aos mouros. E, em vez de avançarem para a Palestina, estes homens ficam por ali e tornam-se os dinamizadores da vida económica e espiritual da zona. E o que resta da sua presença?

Hoje, para além de algumas ruínas do castelo, vemos a Igreja de S. Leonardo (até o nome do santo nos atira para França! - Leonardo de Noblat (há três santos Leonardo…), construída no séc. XIII, com três naves, um estilo gótico perfeito, com a capela do Santíssimo, à esquerda, já com traços renascentistas. A última restauração é de 1970, sendo visível à direita um pouco de um antigo mural pintado a fresco. Curioso é vermos à direita da entrada, depois de descermos uns degraus, um comprido osso de baleia (costela petrificada!?), vestígio de outros tempos. Foi-nos dito que era com ossos de baleia que se fazia o travejamento das casas!

 

Os vários quadros de pintura nas paredes (séc. XVI?), por aquilo que li, aproximam-se do estilo do Mestre do Sardoal, sendo alguns atribuídos a Diogo Contreiras. À esquerda, ainda podemos admirar um presépio do séc. XVIII, da escola de Machado de Castro, vindo de um antigo convento em S. Bernardino, ali ao lado.

Em frente da Igreja, ainda persiste o pelourinho, um pouco decepado por ordem do Marquês de Pombal, numa altura em que era senhor da zona o conde de Ataíde, condenado por também ter sido incriminado no atentado a D. José. Hoje serviu de motivo para uma foto dos turistas(!!!).

Quisemos visitar o Centro Interpretativo, mas estava em obras. Outra igreja digna de visita é a de N.ª Sr.ª da Conceição, do séc. XVIII, que também aparece no vídeo.

Quando Peniche ainda era uma ilha, já Atouguia era um concelho. Aquela baía imensa, que vai até à praia e forte da Consolação, era o centro de toda a economia. Os reis olhavam para a zona com carinho. Só com a reforma administrativa de Passos Manuel (1836) é que Peniche absorveu este concelho.

E aqui fica mais um recanto que nos interessou nas nossas divagações turísticas!

António Henriques

Visita à Atouguia da Baleia

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