PÃO DA VILA, PÃO DA CIDADE

Na última aula, um assunto dominou a conversa. Falava-se da palavra “canto”, que veio à fala por causa da palavra “cantoneiro”, do texto da Manuela Marques. E como estamos a falar da formação das palavras, apareceu a palavra “cantochão”, uma palavra composta por aglutinação, que nos deixou suspensos por não entendermos o porquê da segunda palavra – chão.
Até com recurso à Internet, ficámos a saber que o cantochão, que se confunde bastante com o canto gregoriano, são melodias planas, quase sempre na mesma nota musical ou com poucas variações. Em latim, diríamos que são em “recto tono”, embora tenham também uns melismas mais ricos.
Eu lá disse que há três palavras portuguesas vindas da palavra latina planu(m): plano (via erudita), lhano e chão (via popular).
A menos conhecida ou mesmo ignorada era “lhano”. E não é que a Vitória Afonso disse logo que a tinha usada em poesia! Boas surpresas. E a atestar que é verdade, aí vai o poema.
Pão da vila, pão da cidade

A avó tirava do forno
Aquele “brendero” morno
Ou então pão de rolão
Que aquecia o coração.
Acontecia na vila,
Quando a mãe Mari Camila
No alguidar mexia a massa
Que, depois de feita em pão,
Saciava nossa traça…
Viemos  para  a cidade
No tempo do paposseco,
Que hoje se chama carcaça,
Ninguém já come pão seco.
Mas a saudade perpassa
Quando se come com vontade
Pão de  melhor qualidade
Que é o pão alentejano
Feito pelo povo lhano.

Maria Vitória

brendero – corruptela de merendeiro
lhano – simples, franco, sincero

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.