Termas de Monfortinho – livro

Acabo de ler com gosto mais um livrinho do amigo João Pires Antunes, que não cessa de dar à estampa as maravilhas da sua terra natal, Penha Garcia e arredores. Nestas 100 páginas, o autor olha especialmente para as Termas de Monfortinho, um lugar “desértico” onde nascem umas águas milagrosas nas faldas da serra de Penha Garcia, lugar a que deram o nome de Fonte Santa.
Já conhecidas pelos romanos, que na zona exploraram minas de ouro, com estas águas «sempre se trataram aqui afecções da pele, doenças do fígado e vias biliares, rins, diabetes, doenças ginecológicas e infecções urinárias». (p. 33)
Ribeiro Sanches, o grande enciclopedista do séc. XVIII, escreve já sobre “o poder terapêutico da milagrosa água” da Fonte Santa, que ele próprio experimentara. Mas é o Dr. José Gardete Martins (1869-1957) que é considerado o pai das Termas; quando estudante de medicina, acompanha a tia aos banhos para tratamento de uma hepatite e faz “das qualidades terapêuticas destas águas” a tese final da sua licenciatura. (p. 22)
O autor acompanha o desenvolvimento histórico do empreendimento, especialmente após este médico se empenhar pessoalmente, nos primórdios do séc. XX, na criação de condições para os utentes poderem ali sobreviver em condições razoáveis. O que se via antes eram choças com ramos de árvores onde se passavam os dias de tratamento.
É nos anos 60 do séc. passado que as Termas de Monfortinho atingem maior fama como estância de primeira classe, com balneário moderno, hotéis e pensões e ainda campos de lazer e entretenimento para os aquistas. Após o 25 de Abril, novo apoio veio da Segurança Social, que começou a comparticipar nas despesas dos utentes termais.
Numa segunda parte do livro, o autor assume-se como aquista, reconfortado no corpo e no espírito por águas tépidas e benfazejas, falando dos passatempos para encher os dias, o que nós chamamos um narrador participante, não se coibindo de referir mesmo os nomes dos amigos que visita. É com muita poesia que ele fala do que vê, ouve e cheira a observar fauna e flora.
Na terceira parte, o meu amigo deleita-se e deleita-nos com a descrição do rico património histórico que a poucos quilómetros se pode visitar a partir da estância balnear. Foi numa manhã calma, gozando a sombra, que apreciei ler sobre os icnofósseis e as cobras pintadas de Penha Garcia, aquele “cabeço rochoso salpicado de marcas históricas” – Monsanto – (82), a cidade cheia de história – Egitânea (Idanha-a-Velha) – aos poucos ultrapassada pela nova Idanha, a Salvaterra do Extremo, praça forte das lutas com “nuestros hermanos” ou ainda da Festa do Bodo que estes raianos preparam anualmente para agradecer o milagre de acabarem as pragas de gafanhotos que devoravam as culturas.
Escrita escorreita e clara de quem conhece os espaços como a palma da mão, por ali viveu muitos anos e aonde volta com frequência, sempre a desejar que a sua terra volte a ressurgir com vida nova e novos encantamentos.
António Henriques

4 comentários em “Termas de Monfortinho – livro”

  1. Muito bem, António!
    Já deitei os olhos pelas páginas do livro, li uma ou outra coisa, e ainda não principiei a leitura, o que vou fazer quanto antes.
    Gostei imenso do teu resumo e vou descobrir as voltas que o meu irmão tem dado por aquelas nossas terras, que também conheço, mas onde vivi menos anos que ele.
    Parece-me que o auge das Termas de Monfortinho atingiu-se na década de 50.
    Ainda na década de 40, era eu miúdo, meu pai vendeu muitas azinheiras para alimentar os fogões dos hotéis…. “Doía-me” o coração de ver tantas árvores arrancadas. Mas era assim naquele tempo. Havia fartura e fazia-se dinheiro. Os lavradores viviam da terra.
    Grande abraço!

  2. Obrigado, António; obrigado, João, pois se Salvaterra ( minha terra) me desterra e Idanha me dá calor, nem venho de Penha Garcia nem vou para Penamacor. Jocosamente me declaro saudoso dos pátrios lares e da grande festa do nosso Bodo. Bendito bodo, pois nesse dia , a Santa Caridade matava gratuitamente a fome de muitos carecidos das redondezas, alguns deles “nuestros hermanos” , pois a guerra civil espanhola os tinha deixado com muita fominha. Nesse dia o ensopado dos borregos oferecidos pelos lavradores saciava o apetite dos ricos e a fome dos pobres. Tudo em honra da Senhora da Consolação, nossa santa padroeira. Belos tempos !
    Abraços amigos do velho Zé Caldeira. Belo trabalho do João Pires Antunes, com o seu estilo claro, correcto e conciso, como mandam os bons tratados de Composição Literária.

    1. O que tu agora vieste lembrar!… Sempre vale a pena escrevinhar, nem que seja para falar do que outros, mais afoitos, vão publicando.
      Bem sabes que admiro os teus conhecimentos, as tuas capacidades e a tua loquacidade literária, tu que na adolescência seminarística eras o melhor aluno da turma.
      Abraço e muita saúde no decorrer dos dias. Ant. Henriques

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