Visita ao Museu do Neo-Realismo

Os alunos e professores das turmas de “Poesia e Recitação Poética” e da “Oficina de Português” fizeram uma Visita de estudo ao Museu do Neorrealismo, em Vila Franca de Xira, nesta quarta-feira, dia 18 de Abril.
Em tarde agradável, de sol, a viagem proporcionou um olhar sobre os campos e o rio Tejo, agora alimentados pela copiosa dádiva de chuva com que o mês de Março nos prendou. E a prof.ª Amélia Lopes ia aguçando a nossa curiosidade acerca das belezas desta linda Lisboa, «a mais linda da Europa»!
Entrámos a tempo e horas nas velhinhas ruas de Vila Franca, onde se situa o Museu, sedeado num edifício novo, de quatro pisos, inaugurado em 2007 a expensas da Câmara Municipal.
Espaços amplos, vemos no rés-do-chão a recepção, a livraria, o auditório para 100 pessoas, a sala de exposições de arte contemporânea em renovação contínua… No Piso 1, a curiosidade atira-nos sobretudo para o mundo dos MIÚDOS – um olhar sobre a infância de muitos dos escritores ligados ao tempo do neo-realismo. As fotos daquelas crianças, muito próximas das nossas quando tínhamos a sua idade, sempre nos irmanam com aqueles que um dia deixaram rasto nas letras, nas artes (pintura, música, teatro, cinema…), na política e sociedade do séc. XX, com o rico espólio que o museu nos apresenta.
O piso 2, rotulado com o tema «Batalha pelo Conteúdo», expõe as várias facetas do movimento neo-realista português e sua envolvência, como sejam os vários autores, suas fotos, livros, jornais, exemplos de textos censurados, o célebre VISTO, que tolhia fortemente a liberdade de expressão…
O tema continua para o Piso 3, subindo pelas escadas, e, com a ajuda de uma guia sabedora, com conhecimentos de literatura e história, mais facilmente pudemos compreender a grande mensagem do neo-realismo, sem termos que ler os muitos excertos escritos pelas paredes.
Este movimento literário, situado em meados do séc. XX, nasce num ambiente europeu e americano dominado pelos problemas sociais (pobreza, desemprego, exploração dos trabalhadores) e novos dados políticos (2.ª guerra mundial, nazismo, fascismo…), que são agora olhados pela visão marxista de transformação social, que pretendia igualizar as pessoas, humanizar as estruturas e proclamar os múltiplos direitos do homem, a começar pela liberdade de expressão.
O autor neo-realista, ao contrário de ser apenas realista como outros no séc. XIX (Eça de Queiroz…), queria forçar a mudança da sociedade, melhorar a vida das classes sociais, participar na transformação do mundo para uma utopia mais justa e feliz.
Lembraram-se nomes como Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca, Mário Sacramento, Antunes da Silva e muitos outros. Falou-se das crianças que nunca foram meninos e, descalços, trabalhavam o barro dos telhais; ou dos beirões (gaibéus) que vinham ceifar as searas de arroz.
O Museu possui o espólio de mais de 30 autores, a começar por Manuel da Fonseca, que foi nosso vizinho na Arrentela.
De salientar ainda o predomínio da imagem e dos audiovisuais, sinal de modernidade. Outra preocupação do Museu é continuar os ideais neo-realistas com exposições e colóquios que apelam “ao entendimento de um mundo, não o já existente, mas aquele que está por construir”, como se diz num folheto.

António Henriques

 

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