NOTAS DE INFÂNCIA

Da minha infância tenho muitas e boas recordações. Esta é de facto uma fase especial da vida.

Era uma alegria ver a minha avó preparar-se para cozer o pão – a broa. Peneirava a farinha para a gamela, juntava-lhe o fermento, o sal e ia adicionando a água quente para amassar; de seguida, polvilhava a massa com farinha e fazia uma cruz, dizendo: “São Vicente te acrescente, São João te faça pão”! Cobria-se a massa com uma toalha branca, uma manta e deixava-se levedar.

São muitas as tarefas do fabrico do pão.  É preciso preparar o forno: coloca-se a lenha dentro, acende-se o lume e vai-se virando a lenha de um lado para o outro para que o forno aqueça por igual até as paredes ficarem brancas. Com um rodo puxamos as brasas para a porta do forno e varre-se este com um ramo de buxo. Seguidamente, começamos por “baquear” o pão (1), que se coloca depois no forno com a ajuda de uma pá de madeira.

A minha avó fazia sempre uma merendeira, ou seja, uma broa mais pequena para cozer mais depressa. Quando estava cozida, retirava-se e migava-se para uma malga com alhos picados, um fio de azeite e umas conchas de água a ferver por cima. Que rico almoço se comia nesse dia! Era um almoço pobre? Sim, era, mas tinha cá um sabor... E traz hoje uma saudade sem fim!

  • (1) Baquear o pão = enformar a massa do pão

Manuela Marques

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