NOTA: Mais um texto criado a partir da oralidade provocada na aula sobre a infância de um aluno.
Saudades do tempo de infância, dos pais, irmãos e amigos, não havia fartura, mas saúde, vigor, éramos capazes de tudo: correr, saltar, subir às árvores, brincar despreocupados, e a escola, essa sim! Embora a professora fosse severa.
Na escola, aprendia-se a ler, escrever, desenhar e contar, embora as contas fossem menos agradáveis. Nela fazíamos muitos amigos. Isto era a vida das crianças. Os pais trabalhavam no campo, lavravam, semeavam e tratavam dos campos, sachando e regando, cavando as árvores. Mais tarde, graças a muitas bagas de suor, desfrutavam do que tinham semeado e dos frutos. Era uma vida muito rural, as terras pareciam jardins. “Hoje estão abandonadas e as árvores há muito deixaram de existir, é uma pena!” A comida feita de produtos naturais tinha outro sabor. Era assim toda a parte rural algarvia.
O algarvio é um andaluz, agita-se continuamente numa vivacidade quase infantil, nem a fome, nem o frio o fazem sofrer como em alguns pontos do país. A alfarroba, a amêndoa, a azeitona contribuíam para a ajuda da população, também havia o gado, cabras, ovelhas, vacas, que produziam o leite e forneciam a lã.
Além da agricultura, havia a pesca, fábricas de peixe que empregavam muita gente. Ganhavam no verão, compravam ouro, e no inverno, quando não havia trabalho, empenhavam-no para se alimentar, no verão levantavam a penhora e recuperavam o mesmo ouro.
A província da Algarve é muito dividida, todos têm o seu bocadinho”, como se costuma dizer”.
Claro que havia mais pobres que ricos, como em todo
o lado, e os ricos davam trabalho aos pobres. Noutros tempos, era muito rigoroso trabalhar de sol a sol, por um salário de miséria, sem cobertura social nem reforma, mas isso era em todo o País, daí a emigração para o estrangeiro.
Mais uma característica do Algarve: as casas construídas em pedra com chaminés mouriscas, caiadas, o telhado de canas e paus (viam-se os ratos a passar entre as canas e as telhas!), o chão em ladrilho vermelho.
Havia muitos fornos de cal e ainda existem, mas há muito tempo deixaram de funcionar. Sobre o artesanato algarvio, continuamos a ter louça feita de barro, cestos de cana e verga, chapéus e mais artigos de palha e empreita, bolos tradicionais de amêndoa e alfarroba, o folar da Páscoa, a boa aguardente de medronho….
Sim, é bom fazer um bocadinho de publicidade à minha província! Já me esquecia dos tecelões, com as mantas de lã e trapos, não sei se ainda existem. Tudo mudou…
Lurdes Martins