Mais um livro da Vitória

“No Seixal, a cultura é gratuita e quere-se universal”, disse Maria João Macau, vereadora da Educação da Câmara do Seixal.

Foi o que acabei de ouvir na apresentação do quarto livro da Maria Vitória Afonso, uma professora aposentada há muito radicada neste concelho, onde a escrita tem sido o seu labor preferido. Muito ligada à Casa do Educador do Seixal desde a primeira hora, foi lá que se manifestou e foi incentivado o seu pendor literário. Natural de Colos, no Sudoeste alentejano, é na sua terra que fixa a sua memória descritiva muito rica. Das vivências da sua infância e juventude retira ela histórias, costumes, ditos populares, que são trabalhados numa linguagem rica, de cariz popular, que ela pretende fixar para sempre.

Este livro também não foge à sua alma alentejana na diáspora. Por isso, assim que reúne uns tantos textos, muitos publicados em jornais regionais de Beja e Évora, apetece-lhe logo «…passar ao papel as impressões que se arrastam saudosamente.» (pág.32)

Por influência da família, desde muito cedo começa a gostar da leitura e a frequentar bibliotecas, a começar pelos tempos do liceu em Beja. E os escritores portugueses e brasileiros começam a frequentar os seus pensamentos, a moldar sua mente e a permitir que ela com facilidade reverta em belos e perfeitos sonetos todo o seu «perfil de sonhadora que … logrou amar esta terra sedutora». (p.27)

Ainda me lembro de ter escrito no prefácio do seu primeiro livro que, se a prosa da Vitória é convidativa, mais profunda e rica me parecia a sua veia poética, com sonetos a lembrar Florbela Espanca.

Neste livro, para além de vários momentos poéticos, onde não faltam as décimas, mais uma vez aparece o cante alentejano e a viola campaniça, a importância dos trabalhos agrícolas e das tabernas como ambientes naturais onde nasce o cante de forma espontânea e coletiva.

Também saliento alguns textos mais pessoais, na relação que a Vitória estabeleceu com amigos da escrita e da literatura. Histórias saborosas que marcaram sua vida e fazem já parte da saudade. De uma dessas histórias retiro só de uma página este conjunto de palavras: migas, carne de alguidar, espargos silvestres, a trempe, o papeiro de barro, uma tampa de azeite, pão cortado em fatias, sal, alhos esborrachados, rodelas de linguiça… (p. 85) E cresce a água na boca!

Com muita mestria e à vontade, o livro foi apresentado pelo Dr. António Luís Pinto da Costa, com palavras a propósito da Sr.ª Vereadora, como as que encimam este texto, e pelo Sr. presidente da Junta, Sr. Manuel Araújo, sempre prestável e disponível para colocar o Auditório da Junta de freguesia ao serviço da população, mas já a sonhar com o novo Centro Cultural de Amora que segue em construção.

Em conclusão, devo notar alguma displicência na redação do livro, que precisava de uma boa correção gráfica, quer em ortografia quer na pontuação. A explicação está, de certeza, nos problemas de visão que a autora revela e que mancham as frases. É a vida!

NOTA: Neste dia de Camões, os elementos da Associação Cultural “Mensageiro da Poesia” também declamaram poemas pessoais sobre o tema, houve fado e ainda pudemos apreciar a primeira exposição do artista Carlos Gaspar, ligado à Associação Artes,  que encheu o salão com quadros pessoais, de estilo abstrato geométrico que valeu a pena olhar.

António Henriques

Alentejo minha Mátria

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