Erros ou regra geral?

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Em conversa telefónica com o amigo José Maria Lopes, um distinto revisor do Diário de Notícias, agora aposentado, falávamos nós dos erros que vamos ouvindo e lendo quase todos os dias.

Há casos em que começo a dar-me por vencido. Se todos ou quase todos insistem no uso da expressão errada, é sinal de que ela começa a ser prática corrente… E como é o falante na sua oralidade que vai transformando a linguagem para bem ou para mal, dou-me por derrotado e vou-me calando.

Vamos a exemplos:

 1 – Sénior – Seniores. O plural desta palavra raramente se diz e se escreve corretamente. Por influência do singular (sénior é uma palavra esdrúxula, com acento gráfico na terceira sílaba a contar do fim), quase todos entoam “séniores” à imitação do singular. Mas não está correto! Nenhuma palavra portuguesa tem acentuação na quarta sílaba a contar do fim. Mas aqui acontece esse dislate: sé-ni-o-res. No plural, devemos pronunciar “seniores”, como qualquer palavra grave. E sem qualquer acento gráfico, naturalmente.

2 – O clube tem ganho – ele tem limpo – o Estado tem gasto – a polícia tem preso

Todas estas expressões estão erradas!

Há realmente verbos com dois particípios, o regular e o irregular (ganhado/ganho, limpado/limpo, gastado/gasto, limpado/limpo, prendido/preso, imprimido/impresso, etc…). A regra diz que se usa o particípio regular com os verbos ter e haver, sendo o particípio irregular usado com os verbos ser e estar.

Cumprindo regras, assim se fala “em bom português”: O clube tem ganhado – ele tem limpado – o Estado tem gastado – a polícia tem prendido;

Assim também se devia dizer: eu havia ganhado – ele havia limpado, etc…

Com os verbos ser e estar dizemos: o jogo está ganho, foi ganho; a casa é limpa, está limpa, o dinheiro é gasto, o livro já está impresso…

Este é mais um erro que está a tornar-se prática normal. A forma irregular (ganho, limpo, etc.) tem ganhado estatuto de forma única. Que havemos de fazer?

3 – O terceiro erro a apontar, embora menos frequente, tem a ver com as formas verbais que se podem confundir com as expressões verbo + pronome pessoal. Ainda há poucos dias li no “zerozero.pt” esta frase:

«Paulo Sérgio regressou dos balneários decidido em que a sua equipa vira-se o resultado» (https://www.zerozero.pt/news.php?id=321175)

Em bom português, há aqui dois erros;

A – “decidido em que…” não é português correto. O verbo decidir pede a preposição “a”: decidido a que a sua equipa…, como se diz “decidido a fazer” (e não “decidido em fazer”);

B – Mais frequente é o segundo erro: «que a sua equipa vira-se o resultado», como se aqui houvesse duas palavras!

Querem ver outros casos semelhantes? – “Salvador, realizas-te o meu sonho!” – “Falhas-te porque olhas-te para a frente” – “Nós sempre lava-mos os pratos”…

Em todas estas expressões, só temos uma palavra, que é uma simples forma verbal. O hífen aqui não se pode usar: virasse, realizaste, falhaste, olhaste, lavamos.

Se temos dúvidas, passemos a expressão para a negativa, vendo o que acontece:

– quando temos duas palavras (verbo+pronome pessoal), colocando o “não”, o pronome vem para trás do verbo. Ex. hoje salvas-te – hoje não te salvas! /Vira-se o resultado – não se vira o resultado…

Caso o pronome não salte para trás do verbo, é sinal que só há uma palavra (sem hífen) e por isso diz-se: não virasse, não falhaste, não olhaste, não lavamos, etc.

Assim se escreve em bom português”!

António Henriques

NOTA: Um amigo lembrou-me o caso da palavra “júnior”. Claro, a esta palavra aplicam-se também as mesmas regras. Plural (sem qualquer acento gráfico): juniores.

Um comentário em “Erros ou regra geral?”

  1. Muito oportuna esta chamada de atenção para erros cometidos, muito frequentemente, na ortografia da língua portuguesa. Obrigado Professor António Henriques pela forma simples e compreensível dos exemplos registados.

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