Autobiografia de uma rua simpática

NOTA: Como se escreve bem sem assunto. Basta olhar à volta. AH

Antevendo que me não chamem narcísica intitulei-me uma rua simpática. Acreditem que as ruas também têm sentimentos. E tomam iniciativas.
Andou aí uma senhora mais ou menos dinâmica a querer fazer a minha autobiografia.
E eu lembrei-me duma história, quase anedota, que ouvi contar a um comensal sentado a uma mesa da minha esplanada.
Dois funcionários da TAP travaram um dia uma acesa discussão e um deles meio totó disse:
Ainda um dia vou escrever a tua autobiografia.
O outro sorriu um pouco irónico perante tal asserção e disse rindo:
Só podes mesmo escrever a tua.
Rememorando esta passagem eu disse à referida senhora:
Só eu posso escrever a autobiografia.
Vamos então a isso:
Situo-me no espaço onde outrora proliferavam quintas onde havia: medronheiros, silvados, castanheiros alguma vegetação rasteira tipo mediterrânica Espaço esse que era povoado por muitas aves, alguns répteis, ratazanas etc.
Com a diáspora proveniente das diversas regiões especialmente do Sul (alentejanos e algarvios) os loteamentos aumentaram, a construção civil intensificou-se e hoje a Cruz de Pau é assim qual grande urbe a que pertenço na realidade e no mapa e chamo-me Rua de Bissau.
Coisas importantes se localizaram aqui. Já aqui houve uma antiga escola primária pré-fabricada para evitar que os meninos se deslocassem para a Amora no tempo em que não havia nenhum edifício.
Já houve um templo evangélico, um supermercado etc.
O Clube Recreativo de que me orgulho pelo seu papel cultural e desportivo é assim para mim um verdadeiro ex-libris da rua importante que eu sou.
Sou feliz porque me percorrem muitas crianças, idosas e poetas.
Outros seres, que não os humanos, me visitam: Os pombinhos que se refrescam nas poças de água e beneficiam de boa comida que os moradores generosos colocam na beira dos passeios.
Os espertos melros que esvoaçam de árvore em árvore quando as amoreiras frutificam.
Muitos desses passarinhos são motivo de inspiração para os poetas que passando ou morando aqui, pisam a minha calçada.
Acolá na escola secundária da Amora há um professor que já escreveu um poema sobre a Cruz de Pau.. .
Eu tenho uma fã (as ruas também têm admiradores) que já me prometeu que imitando esse poeta inspirado que se chama Vaz Jacinto, me vai dedicar um poema.
E sabem?! Esta crónica foi escrita às 3 horas…
Não havia sono (as ruas também adormecem) e fui escrevendo…escrevendo…

Maria Vitoria Afonso

(Dedico a um companheiro de letras de seu nome José Vaz Jacinto, malangino de gema)

Um comentário em “Autobiografia de uma rua simpática”

  1. Gostas mais deste tema do site, nota-se…muito interessante a forma como a informação está bem visível. Parabéns pelo teu entusiasmo e interesse por tudo o que fazes.

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