AS PALAVRAS SEMPRE

Eu escrevo porque amo as palavras. Com elas se originam coisas maravilhosas na vida. Elas são a base, o pão do espírito. O Homem é um ser solitário. Para ele é tão necessário comunicar como o pão que come.

Vem todo este arrazoado a propósito de algumas palavras que pouco se ouvem por aqui… tão longe estou do meu Sudoeste… e por isso recordo.  E recordando volto sempre aos regionalismos. Eis uma frase antiga a que achava graça e lógica.

“ O Chouriço é para o pai que bate taipa”

E para começar, quero dizer que a noção de chouriço não é igual em todo o país, depende da região. Vejamos:

No Baixo Alentejo, chouriço é o enchido preto cuja cor resulta de levar sangue e ser aferventado. Na zona de Lisboa, usam genericamente chouriço para designar o enchido vermelho e ao chouriço de sangue chamam morcela, talvez por influência do norte do país. No Sudoeste alentejano, como em todo o Baixo Alentejo, o enchido vermelho confeccionado com pimentão da horta (no norte usam colorau) é designado por linguiça.

Já nos tempos austeros da minha meninice, um rapazito de 12, 13 anos que já tinha que lutar pela subsistência comentava: 

“- Na Herdade da Marchica é tudo à fartazana –pedação chouriço, pedação  lenguriça. Minha casa, sopa pouca, fome muita.”

Isto vem apenas a propósito do aforismo que citei, pois o tema que quero hoje abordar é concretamente:

A taipa

A taipa é um modo de construção de casas, de muros que requer alguma técnica e muito esforço. Chama-se taipa porque a terra é metida entre dois taipais. Essa terra barrenta tinha de ser bem humedecida. Feito isto, era batida com uns maços de madeira com o cabo à altura do peito de um homem, maços esses a que chamavam malhos. Este trabalho era feito normalmente por três homens: o servente dava terra aos taipais, o pedreiro e o ajudante batiam rápido e com força essa mesma terra entre os dois taipais.

O muro podia começar-se por dois metros de comprimento e 0,5m de altura. Se se quisesse prolongar o muro em altura espetavam-se uns pauzitos redondos para se poder continuar. Os muros de taipa, principalmente os que cercavam as quintas, não eram caiados e isso imprimia às mesmas um ar rústico e romântico. Pelo menos, é assim que eu os recordo à distância de tantos e tantos anos.

A nossa “Cerca da Vinha” tinha além de muros de taipa, o bardo. E o que era o bardo? Muito usado para proteger as quintas, consistia em colocar estevas ou “sargoaços” e cobrir de novo com barro ou argila. Estas estevas eram colocadas em espinha para o muro ficar mais protegido da chuva e evitar que estranhos aí trepassem.

As casas tradicionais também eram de taipa. As paredes exteriores levantavam-se em fiadas de cerca de 0,45m de altura por 1,70m de comprimento, que primeiro se obtinham mudando os taipais no sentido do comprimento e depois se iam sobrepondo às outras até à altura desejada. Era uma construção muito duradoura, pois, além do barro, também se juntavam pedrinhas para fortalecer ainda mais.

Em Colos, ainda há muitas dessas casas, que usufruem de óptimas condições confortáveis no Inverno e frescas no Verão.

Maria Vitória Afonso

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