Joaquim Manuel era um homem reservado, mas afável. Tinha vivido em terras africanas por largos anos, onde amealhou pequena fortuna e também algumas doenças tropicais que lhe minaram a saúde e o obrigaram a regressar à sua terra natal.
Nunca se casou, mas adorava crianças.
Foi durante a 2ª guerra mundial, quando havia escassez de tudo, principalmente de pão. As crianças choravam com fome e passavam os dias a pedir pão às suas mães, que, coitadas, não o tinham para lhes dar. – Naquele tempo, um pedaço de pão era uma autêntica guloseima para a maioria das crianças.
Ao Joaquim Manuel doía-lhe o coração e a alma ver as inocentes crianças pedirem pão. Como ele não podia fazer o milagre de transformar pedras em pão, contava-lhes histórias de reinos encantados, onde havia mesas fartas com todas as iguarias. Até inventou um ser fantástico a quem deu o nome de “Sr. Tempero”, que viajava no comboio da linha do Douro, descia na estação de Ribatua, para deixar um saco cheio de brinquedos aos meninos e meninas que não pedissem pão às suas mães. As crianças, durante vários dias, correram para a estação do comboio à espera da chegada do “Sr. Tempero”, mas ele tinha sempre um imprevisto, que o impedia de deixar o tal saco de brinquedos.
Porém, havia um menino que não se conformava com a ideia de não poder comer pão, e, disse alto e em bom som: – eu não quero um brinquedo, quero pão, car…o!
Aproximava-se o Natal e aquelas crianças continuavam iludidas à espera da vinda do “Sr. Tempero”, que nunca mais chegava. Para poder dar-lhes uma alegria de verdade, Joaquim Manuel elaborou uma lista com o pedido dos brinquedos prometidos pelo “Sr. Tempero”: bonecas para as meninas, bombinhos, flautas e cornetas para os meninos. Embarcou no comboio até à cidade do Porto, onde comprou à sua própria custa um brinquedo para cada uma delas.
E, naquele ano, todas as crianças de Ribatua tiveram um Feliz Natal, mesmo sem pão!
São Tomé