Ah, como eu queria de novo
O espírito desses alegres natais,
Reunir todos os entes queridos
Aqueles que já se foram embora
E que não verei jamais
Vê-los reunidos à volta da mesa natalícia,
Com olhos extasiados perante tanta delícia.
Ah, como sinto saudade desses natais
Cheios de tradições e rituais.
As grandes achas na velha lareira,
Com as chamas fortes e crepitantes
E as panelas de ferro fumegantes,
A deixar no ar o cheirinho do bacalhau
E a misturar os aromas do cravo e da canela,
Que sempre se escapavam pela janela.
Os contos de Natal, narrados com devoção,
Pelo mais reverenciado ancião.
Os Jogos do Rapa e do Pião
Que as crianças alegremente jogavam
Sentadas no meio do chão.
O presépio animado, pelas nossas próprias mãos,
Com figurinhas de barro e musgo do monte,
Onde não faltava a água a correr da fonte.
Na Igreja, depois da Missa do Galo, pelo orfeão cantada,
Dava-se a beijar o pezinho do Menino
Quase nu, mas tão rosadinho
Que a todos nós encantava.
Em casa, à nossa espera, a ceia com doces tradicionais,
E, muito muito calor humano,
Como se não coubesse mais.
Por fim, ponham-se os sapatinhos na chaminé,
Para que o Menino Jesus deixasse as prendinhas,
Somente para as criancinhas.
Acordávamos sempre ao romper da aurora,
Quando o menino Jesus já tinha ido embora.
Ah, como sinto saudades desses natais de outrora!
São Tomé – Conceição Tomé