A aldeia onde nasci, situada na Beira, era como a maioria das aldeias de Portugal. Naqueles tempos, anos 40 do século passado, vivia-se com muitas dificuldades e havia fome.
Os homens dedicavam-se à agricultura de subsistência, trabalhando nos campos de sol a sol para puderem angariar o sustento da família. Por vezes, “vendiam” os dias a trabalhar para outras pessoas e assim conseguirem juntar alguns dinheiritos para a botica e pagar as décimas. As mulheres trabalhavam ao lado dos maridos nos campos, tinham as lides da casa e tratavam dos filhos mais pequenos.
Os mais velhos, rapazes e raparigas, quando não ajudavam os pais, iam nos ranchos para fora da terra trabalhar, no “Termo de Lisboa” ceifar os campos, para a “Borda de água” fazer as mondas, vindimar e apanhar a azeitona. Assim, arranjavam uns dinheiros para a ajuda da casa e para o enxoval.
A água necessária para casa e animais era obtida através da abertura de poços nos seus quintais, por vezes a grande profundidade e sempre com trabalho braçal.
A luz que possuíam provinha das candeias de azeite e dos candeeiros a petróleo.
Os rapazes e raparigas divertiam-se nos bailaricos, quase sempre à noite, alumiados pelos candeeiros a petróleo e com as mães das raparigas sentadas à volta da roda tomando conta delas.
À festa da Padroeira da freguesia, que era a principal, é que as pessoas não faltavam, vestindo o seu fatito novo, encomendado para a ocasião. Todos traziam os seus farnéis para depois da procissão irem fazer um piquenique e posteriormente voltarem ao adro para ouvir a banda de música e ver deitar o balão, que para as crianças era o melhor da festa.
Assim, as pessoas viviam felizes não fora alguma doença ou morte de familiar que as viessem abalar.
Entretanto chegava o Natal, época que menos lembro. No dia 24 à meia noite o meu pai fazia as filhoses, que minha mãe já tinha amassado, e comíamos na cozinha onde ardia um grande tronco de pinheiro. Se havia sapatinho na chaminé não me lembro…..eram tempos muito difíceis.
Manuel Luís
Era uma lareira maravilhosa daquelas que cabia uma família inteira lá debaixo … todos a volta a aquecerem-se naqueles fins de tarde e noites de invernia, com o gato enrolado em cima do banco. Fumeiro pendurado e um cheiro a resina de pinheiro. São as minhas memórias desses tempos. Obrigada padrinho por me transportar a esses saudosos momentos.