Questões da língua

NOTA: Gosto muito de trazer para aqui estas considerações sobre vários temas da nossa língua. O José Maria Lopes fez da língua a sua profissão no “Diário de Notícias” e está muito à vontade nestas questões.  Pode ser que algum amigo pegue no tema e acrescente novidade, concordando ou discordando. AH                                                                                                                                           

Meu Caro António HenriquesJosé Maria Lopes.JPG
Porque estou à vontade contigo e atendendo a que estamos sempre a aprender, venho “desabafar” coisas que nunca tinha ouvido ou lido. Como te disse, estava, nessa altura, a ler um livro que encontrara na Bertrand com o título “Almanaque da Língua Portuguesa”.
É provável, dada a tua formação e ao teu traquejo de professor de português, que não seja novidade para ti, mas que para mim foi, ainda, mais um ensinamento.
Assim, o título do livro “almanaque” fez-me pensar porque entendia que almanaque era, e é, sinónimo de “calendário”, mas, consultando o dicionário, os almanaques podem incluir indicações úteis e trechos literários.
Na parte relacionada com calendário, diz o livro que foi São Martinho de Dume, bispo de Braga no Séc.VI, que, não gostando da denominação dos dias dedicados aos deuses pagãos (lunes, martes, etc), considerou correctas as denominações de domingo e sábado ( o primeiro, cristão, dedicado ao Senhor e o segundo por vir de sabat, dia de descanso dos judeus). Considerando que o domingo era o primeiro, os seguintes eram o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto e o sexto e bastou acrescentar-lhes a palavra latina  “feria”  que deve provir do substantivo feminino ” feriae-arum” que quer dizer féria ou dia feriado que, por corruptela popular, chegou até nós “feira”.
Agora, quanto às novidades gramaticais: refere, então, que continuamos a dizer que na nossa língua só há cinco vogais: a, e, i, o, u, mas não, há vogais enquanto som e são catorze e, ainda, os ditongos que são nove (ea, eo, ia,ie,io,oa,ua,ue, e uo) denominados usuais. Quanto aos referidos catorze são: ACtor, ANa, ANtes, Elo, Ele, elE, ENtre, IMagem, India, Óptimo, Olho, Ontem, Universo e UM, (as letra maiúsculas são o som das tais vogais).

Outra curiosidade: os ditados populares. Todos sabemos que as palavras simples ou conjunto de palavras chegaram-nos por via erudita e popular. A popular sofre, por vezes,  mutações no seu caminho. Vejam-se os ditados populares seguintes:

“Quem não tem cão, caça com gato”. Como é possível levar um gato a caçar quando o gato só gosta de caçar sozinho? Então, o ditado deve ser “quem não tem cão, caça como o gato”  Ora se o caçador não tem cão, tem de caçar, imperiosamente, sozinho, como faz o gato.

“Quem tem boca vai a Roma”. Mas quem tem boca só pode ir a Roma? Pode ir a toda a parte, até pode ir à minha terra, que é Tinalhas. Então, o ditado correcto deve ser “quem tem boca vaia Roma”(de “vaiar”).

“Bicho carpinteiro ou bicho pelo corpo inteiro”? Claro que é a segunda designação.

” Cor de burro quando foge” é um disparate. Correcto tem de ser “Corro do burro quando foge” porque quando foge parece ter o diabo no corpo.

Deparei-me pela primeira vez com a palavra GRAFEMA que é sinónimo de LETRA. Nunca pensei que letra pudesse ter um sinónimo, mas, afinal, tem. Conhecemos, sim, FONEMA que é o conjunto de sinais sonoros que podem distinguir ou distinguem significados.

E, por último, esta curiosidade: o português é a única língua internacional que nenhum dos estados que a têm como língua oficial, faz fronteira com outro estado com a mesma língua.

Fico-me por aqui com um abraço do

Zé Maria Lopes

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