Natais da minha terra

Olá, Prof. António Henriques, como vai essa saúde e esse ânimo?
Estamos quase na quadra mais festiva do ano, mas este ano vai ser diferente.
Que estejamos todos com saúde é o mais importante.
Não queria deixar de continuar a participar no nosso Blog “Oficina de Português”, mas a minha inspiração anda muito arredia.
Envio um pequeno texto sobre o Natal de antigamente, quando não existia tanto consumismo.
Espero que sirva para publicar no Blog.
Aproveito para lhe desejar um Santo e Feliz Natal e a toda a sua família. Um grande beijinho com muita admiração e carinho para a D. Antonieta e um grande e especial abraço para si!
Conceição Tomé

Natais de outrora na minha Terra

No ar já se sentia o cheirinho anunciando o Natal. Por toda a parte rescendia a pinheiros, musgo e giestas.
Quando o vento frio amainava e as nuvens cinzentas prometiam a esperada neve, estava na hora de ir ao campo colher as pinhas dos pinheiros mansos para se retirar os pinhões. As pinhas ainda verdes eram lançadas na fogueira para abrirem. Depois, era só sacudi-las e guardar os pinhões que iam servir como moeda, para jogar ao RAPA na noite de natal.
Como não havia o costume de se enfeitar a árvore e o Pai Natal era desconhecido para a maioria das crianças, apenas o presépio vigorava como verdadeiro símbolo de Natal.
A montagem do presépio era a actividade mais empolgante durante os dias que o antecediam. Num canto da casa, em cima de uma mesa ou mesmo no chão, usava-se a imaginação para se montar o presépio mais bonito. Utilizava-se o musgo, as agulhas dos pinheiros, areia do ribeiro e caninhas. Não faltavam as tradicionais figurinhas de barro da sagrada família, dos pastores e seus rebanhos, do burrinho, da vaquinha, dos Reis Magos e da Estrela sobre a cabana onde nasceu o Deus Menino.
Na grande noite, reunida toda a família, era servida a ceia, composta pelo tradicional bacalhau cozido com as couves tenras e doces, acabadas de colher na horta e regadas com um bom azeite, que tinham um sabor divinal. O polvo meio curado ou seco era muito apreciado e também fazia parte da ceia. Depois de cozido, a parte mais grossa dos tentáculos era passada por um polme feito com farinha, ovos, salsa picada e fritos em azeite. O resto, junto com a água da cozedura, ficava para confeccionar um delicioso arroz. Para completar, não faltavam as rabanadas, filhós, arroz-doce e aletria.
Depois da ceia, toda a família acorria ao chamado dos sinos, para assistir à Missa do Galo, celebrada na Igreja matriz. Os cânticos de natal ecoavam pela nave e deixavam um toque de magia no ar. Depois de terminada a missa, vinha a parte mais esperada: beijar o pezinho do Menino Jesus, tão lindo e rosadinho, que parecia um menino de verdade.
De volta a casa, entoavam-se os cânticos pelas ruas, até chegar ao largo do chafariz, onde se acendera uma grande fogueira que iria durar até ao Dia de Reis. A neve a cobrir os telhados, reflectia o brilho das labaredas da mesma fogueira.
Já em casa, sentados no chão da sala ou da cozinha, formava-se uma roda para se jogar ao RAPA com os pinhões. O RAPA era uma espécie de pião com quatro lados onde se lia: põe, tira, deixa e rapa.
Com a noite avançada, era chegada a hora de dormir e por o sapatinho junto à chaminé para que o Menino Jesus deixasse as prendinhas, só para as criancinhas.
Até ao amanhecer do dia seguinte, sonhávamos com um mundo encantado!

Conceição Tomé (São Tomé)
Corroios – Seixal

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