Sebastião da Gama
Decorria o ano de 1952 e no dia 7 de fevereiro o céu ficou de repente ainda mais negro com a notícia da morte de Sebastião da Gama, a voz pioneira da defesa da Serra da Arrábida. Em toda a cidade de Setúbal e seus arredores se chorou a morte do seu poeta.
Sebastião Artur Cardoso da Gama nasceu em Vila Nogueira de Azeitão a 10 de abril de 1924. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e escolheu ser professor. Começou pelas Escolas Industriais e Comerciais Veiga Beirão (Lisboa), de Estremoz e de Setúbal. Aí tinha um grupo fiel de amigos que o acompanhou e acarinhou sempre no seu percurso académico e cultural.
Foi nesse grupo de amigos, do qual fazia parte a minha irmã mais velha, que eu, com menos dez anos que o Sebastião, entrei de “penetra” e logo me rendi, aprendendo a admirar o seu valor, carácter e simpatia.
Na rua, para toda a gente ele tinha um sorriso, um olá, um aperto de mão ou um “bom-dia”. Era frequentemente solicitado para conferências, colóquios ou simplesmente para dizer poesia.
Da sua obra literária, sempre influenciada pelo amor à Serra da Arrábida, escreveu em 1945 a “Serra Mãe”, “Loas a Nossa Senhora” e “Cabo da Boa Esperança”.
Em 1951, casou com a sua amiga de infância – Joana Luísa – e a cerimónia foi na capela do mosteiro, na Serra. A sua felicidade durou pouco. A doença grave que o perseguia desde a adolescência, tuberculose renal, silenciou a sua voz aos 28 anos.
Toda a sua obra poética, como a de grande interesse pedagógico, foi publicada postumamente.
No pequeno museu que a Câmara Municipal inaugurou em Azeitão em 1999, encontra-se o seu espólio literário e objectos pessoais. Da sua poesia largamente divulgada, destaco três poemas lindos: “Sonho”, “Vida” e o “Pequeno poema”. Este, se fosse musicado, eu diria que era um hino de louvor a todas as mães do universo.
Irene Veiga
(Fevereiro/2020)