Um grupo de trabalhadores, oriundos do sul de Angola, queriam nos brindar com uma dança tribal, para a nossa despedida.
(...) Após o jantar, fomos todos para o meio do terreiro e instalámo-nos em improvisados bancos corridos (...). Acenderam uma grande fogueira no centro do terreiro e os músicos com os seus tambores e marimbas, posicionaram-se à volta da fogueira. - A marimba é um instrumento musical de percussão, feito com lâminas de madeira, semelhante ao xilofone e muito difundido em África -.
Depois que os músicos deram os primeiros acordes, surgiram do meio da escuridão os dançarinos vestidos com saias compridas feitas de fios de sisal, os rostos tapados com máscaras de madeira e empunhando cada um uma afiada catana.
A dança ritmada ao som dos tambores e das marimbas imprimia-lhes movimentos rápidos de pernas e dorsos, tornando-se frenética, com os dançarinos a rodopiarem na nossa frente e a roçarem as catanas pelos nossos ombros, com gestos que pareciam ameaçadores. Debaixo daquela exaltação, senti um arrepio a percorrer-me o corpo todo e cheguei a temer se aquela demonstração artística não passava de uma emboscada, para nos apanhar ali todos reunidos e desprevenidos, facilitando um massacre. Ou talvez fosse uma forma de nos quererem avisar de algum ataque iminente dos guerrilheiros, que andavam pela região. De certeza que os guerrilheiros se comunicavam com alguns dos trabalhadores da Fazenda.
Quando a dança terminou, ecoou pelo espaço nocturno uma ruidosa salva de palmas. Os músicos e bailarinos orgulhosos de terem feito uma bela exibição, despediram-se com uma vénia e lentamente recolheram às suas casas. Por fim, todos nos recolhemos aos nossos aposentos e o resto da noite decorreu sem sobressaltos.