CRÓNICA
Um amigo meu do Alentejo tinha pais que viviam bem. O único trabalho do António – era este o seu nome – era estudar, apesar de ser casado e ter dois filhos.
Entretanto, os pais morreram depois de muitos problemas de saúde, em que gastaram quase toda a fortuna. E o António, como não acabou nenhum curso, sem emprego e sem dinheiro, andava desesperado sem saber como sustentar a família.
Decidiu ir para Lisboa, onde tinha uns velhos amigos... podia ser que o ajudassem. Fez a viagem de comboio em 1.ª classe, já que era amigo das grandezas.
Com essa viagem, encontrou um amigo de outros tempos a quem contou a razão da sua viagem. O amigo era funcionário da Câmara de Lisboa e disse que lhe arranjava um trabalho, mas como cantoneiro. Não ganharia muito de princípio, mas seria por pouco tempo, já que brevemente iria para seu assessor e aí iria ganhar muito dinheiro. Talvez até pudesse arrendar uma casa e trazer a família para perto dele.
O António ficou entusiasmado e escreveu à mulher a dizer que dentro de pouco tempo a vida deles iria mudar para melhor. A mulher, conhecendo-o bem, não acreditava que isso viesse a acontecer. Mas o António lá conseguiu arrendar uma casa e de imediato começou a arranjá-la para trazer a família. Mesmo no escritório, só pensava nas mobílias e cortinados para a decoração.
Certo dia, estava em cima de um escadote a pendurar um cortinado quando se desequilibrou e caiu. Achou que aquilo era coisa de pouca importância e não ligou. Tinha apenas batido com as costas no corrimão.
Afinal, era grave. O António tinha lesionado um rim. A doença foi-se agravando e, ao fim de poucos meses, o António acabou por falecer sem ter trazido a família para junto dele.
Manuel Machado
UMA HISTÓRIA
Sonhar é bom, mas cuidado, não seja demasiado.
A minha amiga Maria quis ir viver para Paris, mas não queria ser porteira de um prédio, em que tinha ordenado e uma casa para viver. A razão era porque os proprietários estavam sempre a incomodar. Queria antes viver num apartamento para não ser incomodada. O apartamento era caro, mas, com a minha ajuda, conseguiu.
Ficou muito feliz, mobilou e arranjou tudo ao gosto dela.
Acontece que tinha de trabalhar muito para poder pagar a renda, comer e comprar o necessário para viver. Ela pensava que a vida em França era igual a Portugal, mas não. Em França, é tudo mais caro e ficou desiludida.
A saúde começou a faltar e ficou doente. Então, resolveu voltar para Portugal, tudo isto para não ser incomodada.
Em Portugal, recuperou a saúde e voltou a fazer os trabalhos a que estava habituada.
Tudo bem, sempre teve mais sorte que Ivan Ilitch...
Joaquina Curva