Este espaço de comunicação tem comunicado pouco, devido ao facto de eu ter deixado a atividade docente e não encontrar motivações, quiçá devido à idade, para continuar esta tarefa com o mesmo afã. O blogue está de pé devido ao que diariamente lhe acontece: mais de 600 visualizações mensais pela internet não são despiciendas! O trabalho feito atrai curiosos… Por isso, continuo! A.H.
Aproveito este mês de Abril para enriquecer a “Oficina de Português” com mais contribuições importantes.
Uma dessas contribuições é a homenagem a um grande poeta popular – Arménio Correia – com quem muitos de nós convivemos como aluno na Unisseixal ou na Associação Mensageiro da Poesia e que nos deliciou com a facilidade do seu estro poético, na manipulação da palavra, do ritmo e da rima nas sua quadras populares sempre acutilantes, muitas em estruturas encadeadas ou glosadas, como os dois exemplos que hoje trago para aqui. Ainda publicou dois livros em conjunto com o seu amigo Hermilo Grava (Devaneios em quadras encadeadas e Poesia compartilhada em quadras glosadas) e a associação Mensageiro da Poesia publicou ainda um terceiro – Tributo a Arménio Correia.
Deixou-nos muito novo, devido a complicações de saúde, mas a sua arte espelha-se em quadras como as que posto a seguir.
Ao chegar a primavera
Num Abril cheio de brilho,
Como se fosse quimera
Nasce um poema, qual filho.
Glosa
Enquanto se faz a história,
Há um país que espera.
Sem ter comendas nem glória,
Ao chegar a primavera.
Mas eis que Abril brotou
E o povo abriu seu trilho.
Pelas ruas desfilou
Num Abril cheio de brilho.
Vozes roucas ecoaram.
Chegara a nova era.
Os cravos desabrocharam
Como se fosse quimera.
Num país que cai de velho,
Sem rima nem estribilho,
Dum rubro cravo vermelho
Nasce um poema, qual filho!
15/04/2017
Abram-se portas, janelas,
A Abril desalgemado.
Cantem-se as trovas mais belas
A Portugal libertado!
Glosa:
Longa foi a madrugada.
Muitas foram as mazelas.
Mas chegou a alvorada,
Abram-se portas, janelas!
As mentes nossas amigas
Desfilam de braço dado.
Cantando lindas cantigas
A Abril desalgemado.
Grândola Vila Morena,
Fez abrir nossas goelas.
Em liberdade plena
Cantem-se as trovas mais belas.
O cravo rubro floriu
Na arma de um soldado.
Nas portas que Abril abriu
A Portugal libertado.
Arménio Correia – 25/04/2017