MUDEI DE AMBIENTE

Por uns dias, andamos a distrair-nos na Pérola do Atlântico.

Passeando pela zona da Ajuda, no Funchal, uma zona bastante nova em termos de urbanização, onde os hotéis e os turistas começam a enxamear o espaço, eis que, na nossa caminhada vespertina, subindo com dificuldade a encosta dos Piornais, nos sentimos a olhar para novos motivos de interesse que fogem ao nosso dia a dia.

Ruas destas, com tanta inclinação, são mesmo típicas desta terra, é a primeira constatação. Depois, é a disposição geográfica das casas e a sua própria moldura, um misto estranho de beleza pelos abundantes verdes circundantes e de colocação inesperada das habitações, coladas à montanha por aquela encosta acima, o que me faz imaginar como podem ser servidas por acessos que não vislumbro…

Lá vejo aqueles apetitosos e volumosos cachos de bananas, ali à mão de semear, e outra vegetação desconhecida que me atira mais para ambientes africanos, como nas fotos podem admirar. São pinheiros, mas não são! Serão dragoeiros? Sim, com certeza, até pela nobreza do seu tronco…

E as casinhas semeadas pelas encostas, a dizer-me como foi doloroso e brilhante a adaptação dos madeirenses às sua condições naturais, tudo nos convida a apreciar estes ambientes diferentes, a saudar-nos agora com o carinho familiar e até dos amigos que aqui viemos encontrar.

Isto é mesmo repousante!

E POR AQUI ANDO EU, NESTA ROMÂNTICA E FLORIDA ILHA

Andar a pé é o melhor meio para observar pormenores. E umas vezes ficamos deslumbrados, outras, perturbados com o que a vista alcança. Aqui perto, na Ajuda, há uma grande rotunda com a estátua que podem observar e que me deixa um pouco pensativo acerca do seu verdadeiro significado. Dizem que é um dos monumentos da Madeira de louvor ao trabalhador, uma “Homenagem da Associação da Classe dos Mestres a todos os colaboradores responsáveis pelo desenvolvimento do setor da construção civil e das obras públicas na ilha da Madeira. Erguido no ano 2004 e executado pelo escultor Ricardo Velosa”. Situa-se na Praça da ASSICOM.

Será a estátua de um anjo? Visto por detrás, até me convenceu, pois não se vê a cabeça… E os anjos não precisarão de cabeça! Basta-lhes as asas para se deslocarem pelos etéreos espaços… Mas, vista de frente, a estátua aparenta um anjo sofredor, de cabeça tombada, pendurado pelos ombros, mais como crucificado do que como colaborador heróico para o desenvolvimento da construção civil desta Madeira sempre a evoluir. Coisas da arte, onde nem tudo se vê com clareza.

Hoje, descemos pela primeira vez ao centro do Funchal. Comprámos os “giros” e lá fomos nos “Horários”, uma viagem de uns 15 minutos. Depois, com uma boa guia e amiga, que desde pequena calcorreia estas ruas íngremes, subimos até à Calçada do Pico para visitarmos o “Universo das Memórias”, mais conhecida talvez por museu das gravatas e dos cavalos. É um edifício do séc. XIX, de traça arquitectónica digna, que a Câmara comprou para aí depositar para os curiosos (e são muitos!) todo o espólio que o Dr. João Carlos Abreu, 1.º Secretário da Cultura da Região, foi comprando ao longo das suas muitas viagens. Lá vimos uma salinha com as suas muitas gravatas e outra com centenas ou milhares de cavalos e cavalinhos, mas a variedade e riqueza das peças expostas vale bem uma visita. Muitas peças orientais, jóias, pratas, patos, máscaras… Até um fato bem conhecido da Amália Rodrigues ali está exposto.

Para me chegar ao António Colaço, até consegui tirar à socapa a foto de uma ventoinha de gravatas (não me digam que foi aqui que ele se inspirou!…), igual à exposta no Almada Fórum e que eu não posso visitar.

Este senhor, Dr. João Carlos Abreu, de profissão jornalista de muitos jornais, até trabalhou no Vaticano e parece que a sua amizade por João Paulo II é que conseguiu que ele se deslocasse a esta ilha quando veio a Portugal. Lá está a foto do momento!

Mas deixemos este recanto de mil memórias e desçamos outra vez ao centro, caminhando já cansados pelos empedrados escuros, mas lindos, destas ruas de basalto, admirando ainda as flores, as árvores do lugar, que nos cativam com tanta beleza. São as chamadas “fogo da floresta”, de uma riqueza de cor brilhante.

António Henriques

Um comentário em “MUDEI DE AMBIENTE”

  1. Parece que foi uma boa estadia e um bom repouso (do guerreiro) numa terra linda cheia de flores lindas e quilómetros de bananeiras e com levadas que se destacam pela sua beleza e pela sua construção numa região cheia de socalcos, em que eu conheço quase todos os cantos e cantinhos.
    Um abraço

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