Hoje, o dia amanheceu com sol, ao contrário do meu estado de espírito, que vacila entre o cinzento e o cinzento escuro. Tenho registado em papel algumas vivências que eu adjectivo de importantes, mas, no dia de hoje, não posso deixar de escrever algo que fere a minha alma.
Considero muito pertinente prestar homenagem à memória de minha mãe. Não sei se é o momento ideal, porque tenho o coração amargurado e este sentimento vai conferir ao texto uma carga de melancolia, de profunda dor.
Foi precisamente neste dia ( 21 de Abril de 2000) que a minha mãe deixou de estar entre nós. Assumi conscientemente que era uma despedida para a vida inteira e que iria sentir sempre muitas saudades.
Naquele dia e ano, esse acontecimento natural mas inaceitável ocorreu numa sexta feira santa. A sexta feira santa é um dia muito importante para os cristãos, que, mergulhados na sua fé, vivem a angústia da morte de Jesus. E essa coincidência avivou a minha dor, criou-me estranheza e deixou-me muito pensativa. E então, dialoguei comigo própria.
-Sei que partistes, minha mãe! Mas para onde? Qual é o nosso destino depois da morte? Diz-se que existe o Céu! Mas o que é o Céu? É este espaço azul que paira sobre nós?
De qualquer modo, seja uma realidade ou não a existência da imortalidade, quero admitir que o fim da vida não se resuma a um gesto tão banal como é o lançamento à terra. A dupla essência do homem, física e espiritual, confere-lhe a capacidade de morrer e permanecer eternamente vivo.
Assim, continua a residir em mim a ideia de que existe uma outra vida, talvez numa outra dimensão e num tal espaço denominado céu, que até pode ser junto a Deus. Esse espaço que ninguém pode recriar fisicamente, mas que estará banhado de luz e resplendor, inacessível ao nosso sentido visual.
-Será que é aí que te encontras, mãe? Será que posso elevar os olhos ao céu e pensar: sei que estás aí, minha mãe, à espera do nosso reencontro?
(Continua)
Rosa Fernandes