Tenho sido até hoje fiel à escrita pré-acordo ortográfico de 1990. A minha formação académica está demasiado agarrada às origens clássicas da língua, com predomínio da etimologia, para me atrever a assumir do pé para a mão uma escrita que me parecia uma traição à história da própria língua.
Assim, ao lado de muitos resistentes, fui almejando que se voltasse para trás, que não vingasse esta “afronta” à ortografia do nosso querido “português”. Mas a verdade é que o rio vai engrossando, os produtores de textos individuais e institucionais assumem já na generalidade a nova ortografia, ao lado das escolas onde desde 2012 se é obrigado a ensinar aos alunos as regras do Acordo Ortográfico (AO). Semanalmente, vejo-me confrontado com este disparate de dar explicações a alunos do 5.º ao 9.º ano que escrevem um português diferente do seu explicador. E eu calo-me naturalmente e respeito!…
Começo a sentir-me personagem daquela história em que a mãe de um soldado, que marchava sem acertar o passo com os outros, estava a defender que os colegas é que não sabiam marchar, sendo o filho o único a cumprir as regras…
Nestas coisas, que envolvem emoções para além de alguma ciência, andamos a consultar dados a favor e contra o AO, lendo críticas das duas fações (facções!). E começo a diminuir a minha discordância, pois uns e outros não estão mesmo em extremos opostos. O que noto é sobretudo um ataque a alguns pormenores do AO, que não satisfazem os mais puristas da ortografia tradicional. A mesma acérrima crítica foi feita à reforma de 1911, essa sim a apagar quase por completo a predominância clássica da ortografia tradicional.
Assim, a partir de hoje, irei analisar alguns assuntos suscitados pelo AO, estudar as suas regras para errar o mínimo (alterar práticas de há 70 anos, que foi quando comecei a escrever, não é fácil!) e dizer aos meus leitores e alunos que mudei.
O entusiasmo não é grande, mas não quero sentir-me casmurro!
António Henriques