As leituras são um entretenimento saudável nos dias que correm. E eu sinto obrigação de ir dizendo coisas sobre os livros que me ocupam.
Desta vez, tinha eu acabado de ler o livro que levara para a semana no Funchal (sobre o qual falarei um dia destes) e, sabendo que ia passar horas no aeroporto Cristiano Ronaldo, resolvi comprar outro para ocupar o tempo naquele espaço cheio de gente, ansiedade e alguma perturbação, com cancelamentos frequentes de voos.
Não foi difícil encontrar um livro pequeno para as muitas horas que ali ia consumindo. O nome, Fernando Ribeiro, chamou-me a atenção, dado tratar-se do vocalista da banda metálica Moonspell, de que meus familiares falam muito pela música ou pela filosofia, curso que em conjunto frequentaram na universidade. Título? “Café Kanimambo”, com 142 páginas para leitura ligeira, sem necessidade de grande concentração.
As primeiras páginas custaram-me a tragar, sobretudo por não me identificar nada com aquela linguagem crua, boçal que eu sei que se usa em certos ambientes. Mas lá me embrenhei na história e fui até ao fim.
Em poucas palavras, o cenário é sobretudo a Lagoa de Albufeira e o enredo também, com algumas peripécias vividas em Lisboa. Personagens feitas no labor da vida, sem esperanças de entrar no que se chama elevador social. As férias de verão, vividas no campismo popular, entre a tenda, o café e a areia da praia, permitem cumplicidades e lá aparecem os grupos em luta pelo domínio dos espaços. Também ganha foros de importância aquela escavadora que vai abrir o canal para que as águas saudáveis do mar entrem pela lagoa dentro e limpem as sujidades.
A colmatar a história, surgem os segredos, as vidas duplas, a política sempre servida por quem dela se sabe servir e, para mais entreter o leitor, a meio do enredo lá vem o crime de quem não respeita o outro. Curiosamente, o autor esmera-se em descrever como o crime deve ser encarado e tratado, mas depois é a justiça popular que resolve vingar aquilo que os tribunais maltratam. E não digo mais para não vos tirar o interesse. Gostei!
António Henriques