Vamos nós ter com uns amigos à zona do Baleal - Peniche e nem sequer imaginávamos o mundo que por ali regurgita. É o “Portugal desconhecido que espera por si”.
Começando pelas praias, vemos inesperadamente praias viradas a norte e a sul (onde se viu já isto?!), separadas por um istmo que dá acesso aos carros para a ilha, outro tesouro que os geógrafos gostam de visitar, como nós, para olhar para os sofrimentos da mãe-natureza espelhados nas pedras quase em vertical que nós fotografamos, a imaginar o que o magma revoluciona por baixo e deixa em respeito a crosta terrestre…. São convulsões, chamemos-lhe assim!
Escolas de surf espalham-se ao longo da estrada, numa urbanização desgovernada, que sofre as consequências do crescimento repentino, para o qual não houve tempo de programar regras. Mas tudo decorre em paz, numa convivência apertada de jovens de origens múltiplas, que apenas querem divertir-se. E as praias vão satisfazendo todos os gostos, umas mais selvagens que outras. Curiosamente é nas praias mais “selvagens”, sem apoios turísticos, que mais abundam os carros de matrícula estrangeira!
A convite de amigos, que escolheram a zona para as escapadas benéficas que promovem a saúde mental, lá fomos ao Baleal degustar uns peixes fresquinhos e saborosos, grelhados a preceito. Eu costumo dizer que “venho para conversar e estar convosco”, mas a verdade é que não posso ignorar o sabor e a riqueza que é sentar-nos à mesa com amigos e satisfazer o olfato e o paladar, dois sentidos exigentes que uns apreciam mais que outros, naturalmente…
E depois, visitas ignorantes, surge na conversa a vontade de conhecer o mundo à volta. Imaginávamos nós que a seguir ao Baleal e a Ferrel, uma urbanização mais recente, eram as matas sem fim a dominar a paisagem… Qual quê? E vieram as surpresas. Vamos explorar naquela tarde as extensões que nos levam até à margem esquerda da Lagoa de Óbidos, levados por amigos que conhecem a zona e que por ali se recreiam de bicicleta…
Que maravilha! Urbanizações que nasceram e se expandiram na natureza virgem, facilitando acessos ao mar e à prática do golfe, hotéis de 5*****, piscinas, condomínios fechados, tantos espaços que as pessoas frequentam e lá investiram para descansar. Também era ali que o Benfica optava por fazer os estágios dos jogadores – hotel Marriott, Praia d’El Rei, antes das ótimas condições que agora desfruta no Seixal.
Continuando a descoberta, alcançámos a margem sul da Lagoa de Óbidos, pisando a areia, saudados por um arco-íris, enchendo os olhos de luz e de recordações de outras visitas, feitas em tempos remotos à margem norte, a denominada Foz do Arelho. Era jovem e um dia vem ter connosco um senhor (seria o nadador-salvador?) a gritar “vocês são uns heróis” – tínhamos atravessado a corrente que liga a lagoa ao mar e parece que é muito perigoso por nos arrastar para o oceano!... Mais tarde, com filhos pequenos, ali passámos um fim de semana nas instalações do Inatel com outro casal, para grande alegria dos menores e maiores. E ainda durante a pandemia, tivemos a coragem de partir de Óbidos para a nascente desta bela lagoa (talvez fosse a nascente do Arelho!!!). A vida também se faz de memórias, especialmente as que nos animam!
E digam lá se não vale a pena deixar a monotonia diária e arrancar à descoberta…
No regresso, passámos pelos areais sem fim de Ferrel, campos agrícolas onde se cultivam legumes sem conta, que dão de comer a muitos, como também vejo nos campos adjacentes à praia da Consolação. E os nossos hospedeiros ainda lembraram a histórica tentativa de o governo de então construir naqueles campos arenosos uma central nuclear. O povo revoltou-se e o projeto não passou do papel. E desta eu já não me lembrava, sinceramente. Mas tudo valeu neste dia, com a amizade da Luísa e do Agostinho. Obrigados!
António Henriques
Mas que bela descrição de memórias e reportagem fotográfica.
Ora aqui está um momento muito bom para todos mais tarde revivermos como era e como estará no futuro…
Obrigado amigos pelos bons momentos de conversa que passámos juntos. Queremos mais!