É verdade! Mesmo em tempo de pandemia pudemos visitar Malta. Arrastados por filho e nora, pudemos gozar cinco dias a olhar deslumbrados para as belezas naturais e o património cultural classificado da Unesco em Malta. O facto de este país estar também com 82% de população vacinada deixava-nos alguma segurança, acrescentada pelas máscaras que lá se usavam nos espaços fechados.
Já tínhamos ouvido falar daquele pequenino país, mas com esta visita os olhos ficaram cheios de riqueza, de cor, de beleza, que vão perdurar por muito tempo. Passados estes poucos dias, o olhar para as fotos que tirámos enche-nos de alegria, majorada com as caras familiares com quem convivemos, o que, nos dias que correm à mercê do distanciamento social, mais nos envaidece!
País pequenino, com uma população de menos de 500.000 habitantes espalhados por três ilhas (Malta, Gozo e Comino), é um repositório histórico de muitas culturas, desde os Fenícios até à atualidade. Lá deixaram vestígios os gregos, romanos, árabes (na língua de 870 a 1090), italianos (o condado da Sicília dominou Malta por muitos séculos). Em 1518, sob o império de Carlos V de Espanha, foi cedida aos cavaleiros da Ordem Hospitalar de São João de Jerusalém, que tinham sido expulsos de Rodes pelos otomanos. E é esta Ordem Militar que governa a ilha até ao séc. XIX. Nos tempos modernos, foram os Ingleses (1800) que se assenhorearam do território até 1964, quando Malta conseguiu a independência. Atenção: não posso deixar de referir a ligação da Ordem de Malta às Cruzadas dos séculos XII e XIII e à proteção dos peregrinos que se dirigem à Terra Santa, pois é esta a sua principal missão.
E de história já chega...
Então, o que é que nós vimos? Um território onde predominam as planícies, com alguma vegetação e muita pedra. Para cultivar a terra, muitas pedras e pedrinhas foram retiradas e aproveitadas para fazer muros. Até me lembrei das videiras do Pico que crescem entre paredes de muita pedra!
Espanta também a cor do mar; aquele azul tão carregado fez-me lembrar o mar das ilhas gregas, e a cor dos tinteiros da tinta Ink que enchia os nossos aparos quando jovens.
O mar é o elemento predominante. Ele entra pela cidade de La Valeta, entrecortada de baías e enseadas, que mais parecem canais (ai a nossa Aveiro!), agora cheios de marinas com iates e veleiros.
E as construções? Encontrámos uma cidade bem conservada, com a sua parte alta muralhada, mas leve e airosa nos palácios, jardins e outros monumentos. As ruas estreitas apelam à sua antiguidade (não passou por lá o Marquês de Pombal!); por isso, o trânsito é difícil, ainda mais porque não se paga estacionamento. Olhamos para aquelas casas e extasiamo-nos com a solidez dos edifícios em pedra calcária, a beleza das linhas que lhes confere um ar senhorial e ainda o galanteio daquelas varandas maltesas pintadas de azul, verde ou amarelo.
Tinta, para além das varandas, não se nota nos edifícios. Só nas janelas e portas, muito altas, encimadas por um semicírculo pintado ou em ferro forjado.
Igrejas, muitas, quer em Malta quer em Gozo (não vimos Comino). Predomina o barroco, embora haja também edifícios clássicos do séc. XVI, revestidos embora com as riquezas do barroco.
As esplanadas abundam e é muito agradável beber um café naquelas grandes esplanadas rodeadas de riquezas arquitetónicas, como na Triq Ir-Repubblika, uma larga avenida para peões junto da Catedral de S. João Batista e do Tribunal. Disse “Triq” para verem logo como é difícil a língua maltesa.
Também senti muita alegria a passear pelos campos de Gozo, olhar para grutas, fotografar catacumbas com muita história, saborear iguarias locais, próximas das italianas, e sentir-me turista nos dias que correm…
Agora, de muito especial foi a visita à Co-Catedral de S. João Batista em La Valeta. É outro mundo! No chão, nas paredes e no teto, não há um espaço vazio. Tudo merece atenção. Passeamos sobre muitas peças de mármore incrustado, de várias cores, letras, desenhos e brasões. As paredes estão revestidas de pinturas, esculturas, de múltiplas formas artísticas revestidas a oiro, em motivos vegetais, com a flor de lis e ainda a cruz de Malta das oito pontas. A abóbada e a cúpula prolongam este montão de arte e bíblia, especialmente em pinturas que se prolongam para o coro alto.
As fotos dizem mais que as minhas palavras.
Valeu a pena… Olhar, saborear, conviver, três ações que marcaram os nossos dias em Malta. Mas duas coisas são importantes: falar inglês e guiar o carro à inglesa, o que para mim não seria fácil.
António Henriques