O cão de três patas e outros cães pertencentes a donos solidários
O cão de três patas passeia com o seu dono numa avenida de Lisboa. Um pacato transeunte (alguém com olhos de alma e grande sensibilidade) observa a cena comovente, porque o animal, cão fantástico e com um equilíbrio difícil, como o caracteriza este observador espontâneo, é feliz e faz o seu dono também feliz.
Eis uma historinha de uma bela amizade, que o transeunte em boa hora partilhou no Facebook pois este mesmo Facebook está por vezes cheio de histórias tristes mesmo.
Esta história fez-me recordar e reviver alguns episódios da minha infância relacionados com estes dedicados animais.
Na minha infância, passava longas temporadas em casa dos avós maternos, os quais tinham muitos animais e eu adorava: o Piloto, a cabra e os cabritos, os gatos, a parelha de mulas, etc.
Com os meus dez anos, o avô mandava-me buscar a cabra à Cerca Velha onde ela estava a pastar. E dizia:” leva o Piloto contigo” - para ele era uma segurança, pois o nosso cão muito me ajudava. Chegados à Cerca Velha, eu soltava a cabra puxando a estaca enterrada na terra.
A corda não era muito longa e a cabra ia à vontade solta. Por vezes, parava a comer a relva na beira da estrada. Então o Piloto esperava calmamente por ela e eu fazia o mesmo. Era impressionante. Sempre que a cabra parava, o Piloto esperava e eu seguia calmamente atrás deles.
Ora aconteceu que num dia em que estávamos no quintal, o Piloto, que estava a roer um osso, engasgou-se e o osso ficou atravessado na garganta. O avô, angustiado, mandou chamar o ferrador (espécie de veterinário) para tratar do Piloto, isto é, retirar o osso. Foi muito difícil e o avô chorava com medo de o nosso Piloto morrer. Eu chorava também. Graças à habilidade do ferrador que conseguiu retirar o osso, o Piloto salvou-se. Foi a única vez que vi o avô Generoso chorar. Esta é uma das minhas recordações de infância. Agora vou falar do Júnior, um cão que morreu há cerca de dois anos. Sempre que passava dias em Colos ia fazer diariamente uma caminhada com a minha amiga Ana e o Júnior ia sempre connosco. Dizia a Ana que, por volta das sete da tarde, o Júnior ia ao quarto da dona buscar os seus ténis porque era hábito ela calçá-los para a caminhada.
Eu achava aquilo inacreditável embora acreditasse, mas por fim tive ocasião de observar essa boa capacidade do Júnior, que só lhe faltava falar, pois percebia tudo o que dizíamos e tinha um grande carinho por mim. Nós por hábito sentávamo-nos num banco da Eira da Lagoa.
Num dos dias em que nos sentámos no banco apareceram duas senhoras que mantiveram uma conversa um pouco chata. Eu, já cansada, disse baixinho ao Júnior: Júnior, vai dizer à tua dona para irmos embora. O Júnior levanta-se de ao pé de mim e vai à dona puxar a saia com a boca até ela se levantar. Por isso, pela sua inteligência, ganhou o meu carinho, a minha estima e depois de morto a minha saudade.
Agora vou falar da Lenca, a cadela do meu filho que me foi emprestada quando parti o pé e estive dois meses com gesso. Passei algum tempo na cama. E o Amadeu disse “Não quero a Lenca em cima da cama”. Mas eu queria. Então, quando ele ia para o quintal, eu dizia “Lenca, o dono foi embora”. Ela subia para ao pé de mim. E quando ouvia o dono rodar a chave na fechadura, ela saía da cama. Grande cúmplice esta cadelinha, que também deixou pena pois um dia desapareceu da rua do meu filho. Tenho a sua foto na parede por cima da minha mesa de trabalho, precisamente onde escrevi uma crónica para o Diário do Sul a homenageá-la. Percebem agora porque amo estes dedicados animais.
Eles nalguns momentos douraram a minha vida ...
Maria Vitória Afonso
Os meus parabéns á colega pelo seu trabalho, pois que me enterneceu bastante saber do seu amor pelos animais.
Na verdade e muitas vezes se diz e com razão que há animais melhores que pessoas e eu estou absolutamente de acordo pois basta vermos o que se passa neste mundo global onde vivemos em que as pessoas se portam bem piores do que aqueles que têm quatro patas.
Portanto mais uma vez parabéns pois está um relato bem humanizado e com muita realidade