Natais da minha infância:
Quando eu era criança, não conhecia a árvore de Natal, nem o pai Natal. Acreditava que era o Menino Jesus que vinha deixar as prendinhas aos meninos e meninas que se portassem bem.
Foram natais cheios de rituais e calor humano, onde a família, reunida à volta da grande lareira, escutava a história dos pastores e seus rebanhos, que, guiados pela Estrela, foram até à cabana onde nascera o Menino Jesus. Até as nossas panelas de ferro que fumegavam a deliciosa ceia, faziam parte desse ritual.
Num canto, um pequeno presépio feito com musgo do monte, pedrinhas, pedacinhos de cana e figurinhas de barro, resplandecia à luz da fogueira.
As crianças sentadas no chão, jogavam ao “rapa” com os pinhões acabados de tirar das pinhas ainda fumegantes, enquanto lá fora a neve caía de mansinho e deixava os telhados e os campos todos branquinhos.
Chegada a hora da Missa do Galo, os sinos da Igreja repicavam e toda a gente acorria ao chamado. A Igreja, bem iluminada e decorada com um grande Presépio animado, fazia as delícias da petizada. De regresso a casa entoavam-se pelas ruas as canções natalinas.
Chegada a meia-noite, punham-se os sapatinhos junto à chaminé para aí o menino Jesus deixar as tão desejadas prendinhas. Na manhã do dia seguinte, era só ver o que o menino Jesus nos tinha deixado.
Natais da minha adolescência:
Foram natais passados em climas tropicais, sem chaminé, sem neve e sem lareira, mas também no aconchego da família, com a ceia servida no quintal, debaixo das estrelas. Aconteceu também ficar no meio do nada, longe de tudo e de todos, sem a estrela guia e sob chuva torrencial, impedida de continuar a viagem até casa, para me juntar à família. Outros ainda foram passados dentro de um avião, em voos intercontinentais. Em todos os casos, o espírito de Natal sempre vibrou dentro de mim.
O meu Natal especial:
Mas, de todos os meus natais, o mais especial foi aquele em que fui mãe pela primeira e única vez. Nesse Natal tropical, fui eu que dei à luz um lindo menino, não dentro de uma cabana com o burrinho e a vaquinha, porque os tempos eram outros.
Ao meu menino, em vez do nome de Jesus, dei-lhe o nome de José, porque Jesus já era o nome de seu pai e Maria, o nome de sua mãe.
A partir desse Natal, passamos também a formar uma sagrada família: Jesus, Maria e José, e a festejar o Natal de Jesus em conjunto com o Natal de José!
Conceição Tomé (São Tomé)