Também tenho a história de uma pedra.
Pela Páscoa, há cerca de três anos, estando no Algarve, resolvi ir ao cerro da Cabeça, um cerro próximo da aldeia de Moncarapacho, em cujo local há muitos penedos. Fui matar saudades, pois em jovem, eu, minha tia e primas íamos lá comer o folar na segunda feira de Páscoa.
Naquele momento em que estava a viajar no tempo, com ideia fixa em analepse, ouvi uma vozinha; olhei para todos os lados e só via grandes penedos, os mesmos de outrora. Já ia para me ir embora quando ouvi de novo a voz muito infantil dizer: procuras-me? estou aqui… Foi nesse momento que vi uma pedrinha a rebolar em minha direcção.
Perguntei: quem és tu? Como te chamas? Quem é a tua família? Ela respondeu: chamo-me Maria Ventura, aqueles penedos são Afonso e Antónia, meus trisavós paternos, aquelas pedras mais pequenas são meus avós, Teresa e Francisco, estes são meus pais, Eduardo e Manuela, todas estas pedrinhas são minha família, irmãos e primos.
Quero correr mundo, disse ela, já estou farta de estar sempre neste lugar, quero viajar, andar de comboio, ver cidades, ter alguém que me dê atenção, que eu farei companhia. Sou muito discreta, tenho uma saúde de ferro, não dou despesas, não preciso de muito espaço e transmito boas recordações.
Leva-me contigo, não te vais arrepender, serei tua amiga. Quando olhares para mim, relembrar-te-ás da tua adolescência e juventude no Algarve, de tua tia e primas que eram minhas vizinhas.
Compadeci-me dela e, como ventura e aventureira são palavras com significados próximos, vi que ela estava mesmo determinada a sair de lá e que possivelmente nunca mais a veria.
Foi assim que peguei na Maria Ventura e a trouxe para a Cruz de Pau…
Desde aí, somos inseparáveis e tenho prazer em lha apresentar não em foto, mas ao vivo. Ela tem uma inscrição do local de onde veio.
Esta é a história da pedrinha que queria correr mundo.
Lurdes Martins