Colos, vila alentejana

Anterior à ocupação romana, cujas populações já conheciam a metalurgia do ferro, terá sido integrada no território nacional aquando das conquistas feitas aos mouros pelos nossos primeiros reis.
O seu nome, segundo vários autores, terá sido originado pelos colos, isto é, desfiladeiros numa sucessão de pequenos montes, como linha de separação que opõe a charneca à serra.
Porém, da tradição oral é-me gratificante contar a seguinte lenda que ouvi aos meus avós paternos: Colos teria, em tempos muito anteriores à concessão do foral, um grande centro económico, social e religioso. Existiriam várias igrejas: a de S. Pedro, a de S. Sebastião, a de Santa Isabel, a do Santo Menino, etc.
Também devido à vegetação exuberante não muito vulgar nos campos alentejanos, ter-se-ia chamado outrora “Vila Verde”.
Certa vez, terá acontecido no local um cataclismo, que a lenda não precisa, que terá exterminado a maior parte da população. Contava a minha avó Tomásia que na rua principal só teriam ficado vivos uma mulher e seu filho.
Tendo o rei visitado a povoação terá passado nessa rua e, triste e meditativo, terá dito “Menino ao colo” Vamos restaurar tudo, repovoar e, para perpetuar a memória e a sorte deste menino, a vila passará a chamar-se Colos. As diversas igrejas ter-se-iam desmoronado, mas os terrenos onde foram edificadas mantêm os nomes dos padroeiros. Em Colos, as pequenas propriedades chamam-se cercas, ferragiais ou montes. Há pois a Cerca de S. Sebastião, o monte de S. Pedro, o ferragial do Santo Menino, etc. Não resisto à tentação de dizer que um desses locais, o ferragial do Santo menino, é pertença minha e de minha irmã, sendo um lugar de saudade, pois aí fazíamos com os avós os trabalhos do campo – apanha das azeitonas, debulha, descamisada. O local é agradável, a paisagem magnífica e para matar saudades costumamos ir lá colher acelgas para o cozido de grão (que ninguém na vila já faz) e catacuzes para o cozido de feijão encarnado com molhos com os quais continuamos a deliciar-nos. Debalde procurei tengarrinhas no Ferragial do Santo Menino. Só em Beja as saboreei.

Vila de Colos

As pedras dessa calçada
Quem as pisou já não pisa
Ó mocidade passada
Que a saudade eterniza.

É mais ao entardecer
Que a alma dói bem dorida
Ver o dia a fenecer
E saber-te já sem vida.

Desgostos da juventude
Grandes amores de outrora
Uns dias em plenitude
Nos outros, minha alma chora.

Se não fora incoerente
Muito dava que pensar
Doer a dor bem pungente
E a gente ter de a calar.

Maria Vitória Afonso

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