Ficará inesquecível a minha visita ao Museu do Neo-Realismo no dia 18 de Abril, integrada numa turma da Unisseixal.
Seguimos de autocarro para Vila Franca de Xira, o tempo foi-nos favorável porque havia sol e isso, só por si, já proporcionou o ambiente e a boa disposição das duas turmas, a de Poesia e Recitação Poética e a da Oficina de Português.
A chegada ao museu para mim foi um deslumbramento: observar o registo gráfico de algo que eu tão bem conhecia do mundo da literatura em especial, pois também sabia, embora com menos profundidade, que este movimento também influenciou muito as artes plásticas, a arquitectura, a música e o cinema.
Ao olhar para aqueles documentos, apoderou-se de mim uma reflexão interior, revendo todos os amigos que me iniciaram no conhecimento deste movimento. Eu sei que todos os movimentos têm um início, um auge e um fim e se tornam “démodés” com o decorrer dos tempos, mas este impressionou-me pelo seu contexto e objectivos sociais. Isto numa idade em que somos tão utópicos e impressionados, eu que tinha 18 anos e frequentava o 1.º ano do Magistério Primário.
Beja era uma cidade pacata e provinciana, mas tinha um ambiente cultural muito interessante. O próprio Magistério, sendo particular, tinha grande prestígio cultural devido ao seu Director, Prof. Janeiro Acabado, ser grande pedagogo e ter obra publicada, estimulando os alunos com tendências intelectuais.
Os alunos, futuros professores, eram “obrigados” a ser sócios do Cine-Clube de Beja, que funcionava no edifício Cine-Pax Julia. Aí assistíamos à projecção de filmes de cariz neo-realista. Foi aí que me apercebi da importância do cinema italiano na divulgação deste movimento do ponto de vista social, artístico e literário. A própria designação da corrente surgiu pela primeira vez em Roma. Os principais cineastas do neo-realismo foram: Rosselini – 1945, com Viagem a Itália, Cidade Aberta, Luchino Visconti – 1948, com La terra trema, Vitorio de Sica, com Ladrões de bicicleta (1948) e O tecto (1956).
Formado no pensamento marxista, o neo-realismo defendia as concepções do materialismo dialéctico e rejeitava a concepção utópica de que era imbuído o romance realista. Seguia mais o romance norte-americano de Steinbeck (“As Vinhas da Ira”- 1939), e Hemingway e ainda os brasileiros Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, de todos li alguns romances nessa idade. E, por isso, a minha vinda aqui foi uma maravilhosa “Peregrinação Interior”, que me trouxe à memória recordações que andavam perdidas no subconsciente. Num dia em que me calhava a mim escrever o “Diário da Turma”, nos meus 18 anos, eu escrevi um texto neo-realista. Não me lembro do conteúdo, mas devia ser uma metáfora à pobreza e às desigualdades sociais, pois começava assim: «Cinzento é cor de tristeza».
Maria Vitória Afonso