Numa manhã de verão, tomei o Intercidades de Faro para Lisboa.
A princípio contrariada por vir virada ao contrário, depressa mudei de opinião perante o espectáculo que vou narrar:
Vi no céu a formar-se pouco a pouco uma enorme bola de fogo, alguns minutos depois; as árvores, como loucas em grande alvoroço, corriam para trás, os vidros incendiados gritavam por socorro numa voz muda. O comboio, cheio de pânico, tremia, tremia e por vezes desesperadamente lançava um S.O.S., mas as pessoas, indiferentes, sem dúvida inconscientes do perigo que corriam, permaneciam calmas. Todas menos uma – eu, claro! – que estava subjugada e inquieta.
A bola de fogo, como nos filmes de 3D, cada vez se aproximava mais. Eu estava tão fascinada que tudo aquilo ultrapassava o bom senso. À medida que o tempo passava, a bola de fogo ia subindo e perdendo o seu brilho. Os vidros também estavam mais calmos; só as árvores continuavam a correr assustadas e o comboio a tremer.
Mas já não havia razão para sustos, visto a claridade sobre a terra ser idêntica aos outros dias.
Guardarei para sempre na memória aquele formidável nascer do sol!
Falta-me agora ver o pôr-do-sol à beira-mar.
Lurdes Martins