É fácil ouvirmos ou lermos expressões em que o verbo “chamar” é mal usado. Vejamos, por exemplo, os seguintes casos:
1 – “Chamar à atenção” ou “chamar a atenção”?
– «O comentador chamou à ( a) atenção para o aumento do défice…»
– «O guia chamou a (à) atenção para a beleza das cores daquele quadro.»
– «O professor chamou a (à) atenção os alunos distraídos.»
– «O chefe chama a (à) atenção de todos para a limpeza da sala.»
REGRA: Podemos dizer que chamar à atenção tem uma carga negativa, de censura, reparo:
E chamar a atenção é apenas fazer notar, pedir que prestem atenção.
LOGO, estão certos os exemplos acima com os “a“ grafados a vermelho.
NOTA: Na oralidade, confundem-se por vezes as situações, dado que a pronúncia dos dois “a” seguidos abre o som: a+a=à
2 – O verbo “chamar” tem dois sentidos
A – No sentido de “convocar, convidar”, pede complemento directo:
«O João chamou a mãe (ou chamou-a) para lhe mostrar um desenho.»
B – No sentido de “apelidar, classificar, dar nome”, pede dois complementos, o directo e o indirecto.
Ex.s – Em honra do avô, ela chamou ao filho Aníbal. O Manuel chamou-lhe ladrão. E eu chamo-te criança.
CASOS DISCUTÍVEIS:
Estão correctas estas frases?
1 – O réu chamou-o mentiroso. Frase incorrecta, pois o verbo “chamar” pede dois complementos: o complemento directo é «mentiroso» e o complemento indirecto tem de ter a forma do pronome indirecto «lhe». O “o” é a forma do complemento directo. Em bom português, diríamos: O réu chamou-lhe mentiroso.
2 – O réu chamou-o de mentiroso. Em português de Portugal (no Brasil, é diferente), dizemos que a frase é incorrecta. O verbo “chamar” nunca exige a preposição “de” para lhe completar o sentido. Outros verbos exigem: sair de, saltar de… O verbo “chamar” pode ter a preposição “de” à frente quando se junta uma circunstância de lugar ou modo: «de cima do muro…», «de baixo para cima», «de repente»… Assim, a forma correcta desta frase só pode ser: O réu chamou-lhe mentiroso.